Sergio Rodrigues Brasil, 1927-2014

Biografia

Sérgio Rodrigues nasceu em 1927 no Rio de Janeiro.  Inicialmente ele estudou arquitetura, antes de se interessar por decoração e design. Em 1953 ele ingressou o ateliê Moveis Artesanal de Carlo Hauner & Martin Eisler, que ele deixou após um comentário desanimador de Martin Eisler, dizendo que Sérgio Rodrigues não tinha futuro no design.

 

Ele se tornaria um dos grandes nomes do design não somente brasileiro, mas internacional. Tendo recebido prêmios como o “Concorso Internazionale del Mobile” em 1961. Rodrigues é certamente o mais brasileiro dos designers, comprometido em valorizar as culturas locais e em particular as populações indígenas nativas do Brasil, em 1955 ele criou o seu próprio ateliê chamado "Oca", cabana na língua indígena tupi-guarani. Rodrigues encontrou nesses povos a inspiração para um pensamento total e integrado da forma de habitar e de seus móveis em uma relação complementar com a natureza. O espaço e a forma deveriam fazer sentido juntos em uma articulação sintética.

 

A melhor maneira de contar a biografia de Sergio Rodrigues é seguir o rastro de suas criações.

 

O primeiro que lhe trouxe o reconhecimento foi o "Banco Mocho" criado em 1954, um banco tripé cujas linhas provêm dos bancos vernáculos que os fazendeiros usavam para ordenhar as vacas. Sérgio Rodrigues se distinguiu com esta peça como faria ao longo de sua vida, assumindo uma parte de humor e até mesmo de travessuras, o desenho de apresentação do "Banco Mocho" é graficamente próximo à história em quadrinhos ou da caricatura. Mais tarde, os panfletos publicitários de Oca mostrariam seus móveis em interiores deliberadamente desordenados. Ou a resposta que ele deu, uma vez reconhecido como designer, quando se lembrou das duras críticas de Martin Eisler: "Se meu cão dorme em uma das poltronas que criei, ele deve ser bom!".

 

Deve-se notar também que para o modelo "Mocho", como para outros, é possível encontrar diferentes versões na forma ou nos materiais utilizados, pois Rodrigues tinha o hábito de trabalhar instintivamente e praticamente no início, deixando esboços detalhados e graduados somente depois de ter feito e comercializado uma série de peças.

 

Em 1956, em meio à construção de Brasília, Rodrigues prestou homenagem a Niemeyer, o arquiteto responsável pelo projeto, com sua cadeira "Oscar". A parte traseira da cadeira é projetada de tal forma que se reconhece imediatamente as curvas traçadas por Niemeyer para o Palácio da Alvorada, o palácio presidencial em Brasília. O resto da cadeira é leve, graças às pernas delicadas e ao assento e encosto feitos de vime de palha natural. Quanto aos apoios de braço, o acabamento rebaixado mostra que o conforto é também um dos fios que norteiam as criações do designer carioca. Todo o conjunto foi feito incialmente de Jacarandá da Bahia (jacarandá do Rio), uma das mais belas e nobres madeiras do mundo, encontrada somente no Brasil.

 

Rodrigues foi um dos primeiros designers à nomear suas peças, seja em homenagem a outros arquitetos como Lucio Costa ou a referências mais afetivas como a seu neto, a quem dedicou a luminária de mesa "Tcheko", ou mesmo de forma humorística como a poltrona "Mole".

 

Em 1957, ele assinou outro modelo icônico que lhe valeria reconhecimento e prêmios. A poltrona "Mole" ou "Xerife", projetada em resposta a uma encomenda de seu amigo, o fotógrafo Otto Stupakoff, que o havia deixado apenas uma instrução: ter uma peça com "rest appeal"! Com ela Sérgio Rodrigues criou uma abordagem oposta às linhas limpas do modernismo, distingue-se por sua aparência volumosa ou, segundo o designer, por seu visual de "panqueca de couro".

 

Da mesma forma, sua estrutura maciça e robusta é o oposto da delicadeza e leveza procuradas pelo gosto da época. Também feita inicialmente em Jacarandá, tudo nesta cadeira é essencialmente brasileiro. Os elementos de montagem são clássicos da fabricação de marcenaria brasileira, assim como o suporte de couro inspirado no princípio da rede, que dá à peça a expressão mais bem sucedida da particularidade do país em móveis. Jorge Zalszupin diria que esta cadeira é "talvez a única peça de mobiliário brasileiro [...] porque é flexível, feita de madeira, com grandes proporções, seguindo uma estética pessoal".

 

O ano de 1957 foi também um período de intensa atividade para a Oca, a fim de responder às encomendas de Niemeyer de mobiliar o complexo arquitetônico de Brasília.

 

No ano seguinte, ele se renovou inteiramente criando outra peça icônica: "Mucki", um longo banco de grande simplicidade de aparência, feito de ripas sólidas de Jacarandá.

Em 2001, com a poltrona “Diz” sua última criação, Rodrigues alcançou a perfeição do que Michel Arnoult chamou de "conforto duro", ou seja, alcançar, através da ergonomia do design e da compreensão da anatomia humana, um conforto sem utilizar materiais macios (espuma, tecido, couro). No crepúsculo de sua carreira, Rodrigues assinou um feito técnico que dá uma conclusão pura a toda sua vida, como se fosse para nos lembrar em uma última lição prática a essência da profissão de designer.

Obrigado mestre!

Obras
  • Sergio Rodrigues, Étagère murale , c. 1965
    Étagère murale , c. 1965
  • Sergio Rodrigues, Table de salle à manger "Alex", c. 1960
    Table de salle à manger "Alex", c. 1960
  • Sergio Rodrigues, Paire de Tables de chevets "Yara", c. 1960
    Paire de Tables de chevets "Yara", c. 1960
  • Sergio Rodrigues, Table Alex, c. 1960
    Table Alex, c. 1960
  • Sergio Rodrigues, Guéridon - "Alex", c. 1960
    Guéridon - "Alex", c. 1960
  • Sergio Rodrigues, Tea Trolley "Vertis", c. 1960
    Tea Trolley "Vertis", c. 1960
  • Sergio Rodrigues, Table Basse - "Viana", c. 1970
  • Sergio Rodrigues, Lampe de table - "Tcheko", c. 1960
  • Sergio Rodrigues, Paire de Table de chevet, c. 1960